terça-feira, 6 de novembro de 2012

Batismo de Crianças




“Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (São João 3,5).



"Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas" (Lc 18,16).

O Protestantismo durante a Reforma no século XV inventou que o Batismo não pode ser ministrado às crianças. Esta novidade foi introduzida pelos Anabatistas. Note que os primeros protestantes (Luteranos, Presbiterianos, Calvinista e Anglicanos), guardam até hoje o batismo de crianças.

A Sagrada Escritura
A Sagrada Escritura cita vários exemplos de pagãos que professaram a fé cristã e que foram batizados "com toda a sua casa". A palavra "casa" ("domus", em latim; "oikos", em grego) designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças:

"Disse-lhes Pedro: 'Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. A promessa diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos que estão longe - a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar'." (Atos 2,38-39)

"E uma certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. E, depois que foi batizada, ela e a sua casa rogou-nos dizendo: 'Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali'. E nos constrangeu a isso." (At 16,14-15)

"Tomando-os o carcereiro consigo naquela mesma noite, lavou-lhes os vergões; então logo foi batizado, ele e todos os seus." (At 16,33)

"Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados." (At 18,8)

"Batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro." (1Cor 1,16)

Argumentos Protestantes
Os protestantes costumam argumentar dizendo que Jesus foi apresentado no tempo quando criança e somente foi batizado na idade adulta, e por isto eles apresentam suas crianças no altar e batizam os adultos. Só que se esquecem que o Batismo faz parte do ministério de Jesus, que se iniciou com 30 anos. Como Jesus poderia ser batizado quando criança se ainda seu ministério nem havia iniciado? Os ritos da lei mosaica só deixariam de valer após a ressurreição de Cristo (cf. Mt 26,61). Por isto, Jesus foi apresentado no tempo quando criança, pois a lei mosaica ainda valia e o batismo ainda não.

A circuncisão que era o sinal da iniciação do Judeu na vida religiosa, era realizado também nas crianças. A circuncisão (sinal da Antiga Aliança), foi substituída pela Batismo (Sinal da Nova Aliança). Desta forma o batismo também pode ser ministrado às crianças:

"Nele também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados com ele no batismo, nele também ressurgistes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos." (Col 2,11-12)

Através do batismo o Espírito Santo nos dá um novo nascimento, nos regenerando. Por isto, as crianças também devem ser batizadas, pois já nascem pecadores. "Todos pecaram" em razão do pecado de Adão, inclusive as crianças:

"Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3,23)

"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (Rm 5,12)

"Certamente em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe." (Sl 51,5)

Outro argumento protestante é que as crianças não podem crer, e que o batismo deve ser um ato consciente de quem está sendo batizado. Como já dissemos em artigo anterior, o batismo regenera o homem. Por acaso se um filho de um protestante estiver doente, seu pai vai esperar que ele cresça para escolher tomar a vacina, ou vai lhe dar a vacina? Todo bom pai faria daria logo a vacina. O mesmo acontece com o batismo. Mas de qualquer forma, vamos mostrar pela Sagrada Escritura que as crianças podem crer:

"E quem escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado ao mar" (Mc 9,42)

"Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou ela em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Ao chegar-me aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.'" (Lc 1,41-44)

"Contudo, tu me tiraste do ventre; tu me preservaste, estando eu ainda aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre da minha mãe." (Sl 22,9-10)

Testemunhos Primitivos
Nosso Senhor Jesus Cristo garantiu que a Igreja nunca pregaria o erro (cf. Mt 16,18), e garantiu a Sua Assistência Divina à Igreja todos os dias até o final dos tempos (cf. Mt 28,20). Para desmentir o que os protestantes pregam, dizendo que a Igreja modificou a doutrina, ou apostatou, transcreveremos abaixo alguns dos testemunhos primitivos, que provam que a Igreja ensina hoje o mesmo que ensinava nos tempos mais remotos do cristianismo:

"Ele (Jesus) veio para salvar a todos através dele mesmo, isto é, a todos que através dele são renascidos em Deus: bebês, crianças, jovens e adultos. Portanto, ele passa através de toda idade, torna-se um bebê para um bebê, santificando os bebês; uma criança para as crianças, santificando-as nessa idade...(e assim por diante); ele pode ser o mestre perfeito em todas as coisas, perfeito não somente manifestando a verdade, perfeito também com respeito a cada idade" (Santo Irineu, ano 189 - Contra Heresias II,22,4).

"Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas" (Hipólito, ano 215 - Tradição Apostólica 21,16).

"A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar Batismo mesmo às crianças. Os apóstolos, aos quais foi dado os segredos dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito" (Orígenes, ano 248 - Comentários sobre a Epístola aos Romanos 5:9)

"Do batismo e da graça não devemos afastar as crianças" (São Cipriano, ano 248 - Carta a Fido).


Conclusão
O batismo é uma graça regenerativa para a vida humana. Ninguém deve ser privado desta graça. O batismo deve ser principalmente ministrado para as crianças. E esta sempre foi a prática da Igreja.

Somente o Papa possui a autoridade para ligar e desligar (na terra e no céu, cf. Mt 16,19). Fora isto, ninguém tem o direito de negar esta graça às crianças. É através do batismo que temos nossa primeira experiência com Jesus. Creio que Jesus está fazendo o seguinte apelo aos protestantes: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais" (Lc 18,16).



PS:
O Papa Bento XVI sobre o Batismo de Crianças (Clique Aqui)
O Catecismo da Igreja Católica sobre o Sacramento do Batismo (do número 1213 e seguintes)

Purgatório




O Purgatório é simplesmente o estado que a alma do cristão vê, com toda a clareza, a hediondez da sua vida tíbia na terra, e repudia toda incoerência do seu amor a Deus, vencendo a resistência das paixões que neste mundo se opuseram à purificação desse amor. A alma sofre por ter sido negligente e, em conseqüência, ter adiado o seu encontro face a face com Deus


O Papa Bento XVI na sua encíclica Spe Salvi diz que o purgatório é, para nós, fonte de grande esperança. E daí você já está pensando quão "pobres" são os protestantes que não acreditam no purgatório, já podem começar a desesperar. Por que? Porque para nós termos esperança na salvação nós temos que entender uma coisa muito séria: Deus é Santíssimo. Claro, ele mereceu para nós a Salvação e nesse sentido os nossos irmãos protestantes estão corretos quando eles insistem na realidade de que o sacrifício salvador de Nosso Senhor Jesus Cristo foi suficiente para nos redimir e para abrir as portas do paraíso para nós. Então nós podemos devemos acreditar que em Jesus aconteceu uma salvação objetiva, sim!

Agora o problema é que não existe somente a salvação objetiva, existe também a salvação subjetiva, ou seja, as condições para sermos salvos já existem, Jesus já nos redimiu, já nos salvou, o problema é que nós temos que acolher isso pessoalmente, e não basta a fé.

Os protestantes acham que só a fé basta: "eu acredito que Jesus fez isso" pronto! E acabou!
Só que existe uma realidade que nós podemos "tocar com a mão" no nosso dia-a-dia, é que mesmo acreditando em Jesus, mesmo tendo fé nós vemos que dentro de nós continua algo de pecaminoso, uma tendência para o mal, essa tendência para o pecado, nós chamamos de concupiscência, São Paulo usava a palavra επιθυμια (Epitumia), ou seja, essa realidade que nos leva a um desejo, a uma espécie de apetite para o mal, isto está em nós, apesar de Nosso Senhor Jesus Cristo já ter nos salvado, nós temos essa tendência, ela vem do pecado e conduz ao pecado, embora a concupiscência em si mesma não seja pecado, nós sabemos disso. No entanto veja, Ela, é uma consequência do pecado, isso está em nós, e nós podemos experimentar isso realmente, não precisa acreditar no Papa Bento XVI, não precisa acreditar em mim, basta você acreditar naquilo que você enxerga dentro de você, nós vemos que apesar de ter a fé em Jesus nós temos uma tendência para o pecado.

A pergunta é, meu irmãozinho evangélico, você acha que este coração do jeito que ele está, com essa tendência para o pecado está pronto para entrar na vida eterna junto com Deus?
Bom, não sei qual é a sua resposta, mas a resposta de Lutero é que sim, ou seja, o pecador que tem fé em Jesus Cristo, ele irá entrar no céu, com este coração pecador, no entanto irá entrar com o pecado disfarçado, por assim dizer, ou seja, Lutero pega uma frase de São Paulo e a interpreta ao pé da letra, que a fé ela é julgada por Deus como sendo justiça, ou seja, no fundo no fundo, você não foi justificado, você não foi salvo, você não foi redimido, mas Deus "vai limpar sua barra" e vai considerar, vai fazer de conta que você está pronto pra entrar no céu.

Só que acontece que isso não é salvação, isso não é felicidade pra ninguém, por que? Porque imagine você entrar com esse coração pra toda a eternidade, meu irmão isso é desespero, isso é terrível, porque olhe para dentro de nós, dentro de nós temos generosidade, mas ao mesmo tempo nós temos avareza, nós temos amor, mas ao mesmo tempo temos egoísmo, nós perdoamos, mas ao mesmo tempo somos rancoroso, nós vemos dentro de nós que nós não somos seres humanos, nós somos um campo de batalha, nós no fundo no fundo estamos sempre nessa realidade do conflito, então, quando nós morremos, morremos nesse estado de conflito.

O Papa nos diz na sua Encíclica Spe Salvi que existem pessoas muito boas, pessoas que tem um coração especialmente bondoso, nós não temos dificuldade nenhuma de achar que essas pessoas que sofreram tanto aqui na vida e que, verdadeiramente, se uniram a cruz de Cristo, como os nossos Santos, que são nossos heróis da fé, nós não temos dúvida nenhuma, e dificuldade nenhuma de achar que essas pessoas quando morrem já vão par ao céu, assim também não temos dificuldade de compreender que existem pessoas que estão realmente fechadas para Deus, estão fechadas para o amor, fechadas para o Espirito Santo, que cometeram o pecado de fechar o seu coração para a verdade e que essas pessoas uma vez colocadas diante da verdade de Deus irão rejeita-lo virar as suas costas e ir para um rumo diferente, chamado de inferno.

Existem esses dois extremos, corações especialmente bons, corações especialmente maus, mas a maior parte das pessoas são como eu e você, um coração medíocre, um coração que é bondade e ao mesmo tempo é maldade, que é amor e ao mesmo tempo é egoísmo, que é santidade e ao mesmo tempo é miséria, essas pessoas, como eu e você, como elas vão para o céu?
Bom, Lutero acha que elas entraram disfarçadas porque elas tem fé e a fé é disfarçar esse pecado, e então, travestidas de justos elas serão consideradas justas e viveram eternamente, só que isso não é salvação, porque viver com este conflito dentro de mim a eternidade toda não é salvação.

Então é aqui que a Igreja , ela crer que existe uma purificação, um purgatório, ou seja, onde esse meu coração, miserável, que não ama a Deus o suficiente será purificado pelo amor de Deus, o Papa Bento XVI, fez uma catequese a respeito de uma Santa pouco conhecida, Santa Catarina de Gênova, e essa Santa que nasceu no século XV, ela tem uma doutrina sobre o purgatório, porque na sua vida mística, espiritual, ela teve experiência da dificuldade que existe dentro de nós, do drama que existe dentro de nós por causa do nosso pecado.

Catarina era uma mulher casada com um homem que foi fazendo com que ela vivesse uma vida mundana, digamos assim, o seu marido era um homem viciado em jogos de azar, e Catarina seguia seu marido na vida mundana, até que um diz ela foi se confessar, e nessa confissão ela foi, transverberada, ela foi atingida pelo amor de Deus no seu coração e Deus mostrou, o seu infinito amor, e ela viu a sua grande miséria, aqui ela sentiu uma experiência, já aqui na terra, deste amor imenso, mas isso fazia com que ela sofresse, sim, um fogo interior que fazia com que ela de alguma forma passasse por uma purificação, por que?
Porque ao ver a grandeza do amor de Deus e ao ver a sua própria miséria, foi nessa experiência básica e fundamental que Santa Catarina de Gênova, descobriu o que era o purgatório, ou seja, diferentemente dos autores de sua época que pensavam o purgatório como um lugar em que a pessoa fica lá pagando seus pecados, Santa Catarina de Gênova, compreendeu perfeitamente que o purgatório era um fogo interior, um fogo na alma, que queimava, mas queimava exatamente porque aquele coração pecador não conhecia o amor de Deus e agora passou a conhece-lo e quando ele conhece, vê sua miséria, e vê a grande misericórdia.

Ou seja, quando nós nos damos conta o quanto nós fomos amados e o quanto não amamos de volta, aqui está a experiência do purgatório, essa experiência de ver, receber a graça de ver a nossa verdade mais profunda, vejam, meus irmãos, a doutrina da Igreja a respeito do purgatório se baseia exatamente na verdade, entrará no seu a nossa verdade, mas qual é a nossa verdade?
A nossa verdade é de uma imensa miséria e de uma infinita misericórdia de Deus, quando a miséria se encontra com a misericórdia, acontece aquela dor do filho pródigo, pequei contra o céu e contra ti, não sou digno de ser chamado teu filho, e no entanto Deus continua amando e fazendo festa, esta dor de saber o quanto eu fui amado mas o quanto, infelizmente, eu não amei de volta chama-se purgatório, é aqui que está a essência do purgatório.

A Igreja ela crer que existe um purgatório e que nós poderíamos evitar esta grande dor, esse grande fogo purificador depois de nossa morte, se já aqui na terra vivêssemos a penitência, é ai que nós entendemos então o que é a vida de ascese, a vida penitencial, a vida de ascese é um vida em que a pessoa através da penitência, já, aqui nesse mundo entra nessa dinâmica de enxergar a sua verdade, a verdade de sua miséria e a verdade da infinita misericórdia de Deus. A penitência não é para pagar os meus pecados, a penitência é para que eu tome posse dessa miséria que eu sou e a apresente diante de Deus, porque, como diz Santa Catarina de Gênova, chega de pecado! Chega de mundo! Nós não podemos ficar nos entregando ao pecado e ao mundo desse jeito quando nós fomos tão amados por Deus, viver uma vida de penitência aqui neste mundo é iniciar, já agora, esse processo de purificação.

Não se trata de achar que eu sou salvo pelas minhas penitências, nada disso, Jesus já me salvou, a salvação objetiva ela já aconteceu, eu preciso, porém, tomar posse dessa salvação, e esse tomar posse é subjetivo, não acontece somente com a fé, a fé sozinha não basta, porque a fé sozinha é uma fé morta.

Para entender o relacionamento entre fé e obras nós poderíamos tentar ajudar aos nossos irmãos protestantes com uma comparação: imagine a relação entre vida e movimento, quando uma pessoa cai no chão desmaiada você quer saber se ela está viva, então o que você faz? Você procura movimento, você procura ver se ela continua respirando, se os batimentos cardíacos estão lá, os médicos pegam e colocam uma lanterna para ver se a pupila se retrai ou dilata, se a pupila está dilatada e não retrai é porque a pessoa morreu, não há movimento, se as ondas cerebrais não funcionam, se o cérebro não está reagindo, se eletroencefalograma está plano e chato, ali não tem vida, então vejam, os médicos e as pessoas procuram movimento e o movimento é sinal de vida, agora evidente, todo mundo sabe que movimento não é vida, se você pegar um cadáver e move-lo mesmo assim, isso não vai fazer com que ele esteja vivo, mas se existe vida tem algum movimento.

Assim também é a fé, a fé é a vida da alma, mas se essa fé é verdadeira ela precisa ter movimento, ou seja ela precisa ter as obras, não há vida se não houver movimento, não há fé se não houver obras, e as obras, as obras de caridade, as obras de rejeitar o mundo, as obras de lutar contra o pecado, a obras de uma vida ascética são necessárias para que a nossa fé seja verdadeiramente viva, nós não estamos comprando a salvação estamos somente assumindo a salvação que Nosso Senhor já adquiriu para nós, trata-se de entrar com fé verdadeira, ou seja, uma fé, como diz São Tiago, que se manifesta pelas obras.

domingo, 4 de novembro de 2012

Indulgências



Pra falar das indulgências eu precisaria escrever um livro inteiro, mas vou tentar escrever um pouco e deixar aqui uma bibliografia básica para ser consultada que é o Catecismo da Igreja Católica a partir do número 1471 e seguintes, ali você vê uma tratativa sistemática do que seja a doutrina das indulgências.

Para entender o que é indulgência nós precisamos entender uma outra coisa antes, que e a pena temporal, então vou explicar pra você um pouco através da história da Igreja, fica mais fácil para você entender, hoje em dia nós temos a confissão, e através da confissão você recebe o perdão dos seus pecados e a penitência que o padre lhe dá para que você cumpra, mas não foi sempre assim, houve na história da Igreja outra modalidade de se administrar o sacramento da penitência, como era, a pessoa ia até o sacerdote ou até o bispo, confessava o seu pecado recebia um a penitência, que deveria cumprir, e só depois de cumprir essa penitência, que muitas vezes era longa, é que a pessoa podia ser readmitida à comunhão na Igreja, com a absolvição, então veja, nós hoje em dia temos uma inversão das coisas, temos a confissão, imposição da penitência, mas não a realização dela ainda, e a absolvição, depois o fiel vai pra casa e realiza a penitência que lhe foi imposta.

Está era a prática da Igreja antiga: a pessoa primeiro precisava fazer penitência para depois receber a absolvição, por que isso? Deus não perdoa os pecados de graça? Jesus não já pagou meu pecado na cruz? Sim, Deus perdoa o pecado de graça, mas a penitência não é pra pagar os pecados, a penitência é para resolver os problemas que eu criei com meus pecados, aqui que está a diferença, é aquilo que na teologia é chamado de pena eterna e pena temporal, qual a diferença? Quando você peca você ofendeu a Deus, e por isso você mereceu o inferno, o inferno chama-se a pena eterna, o padre absolve você e por isso você não precisou pagar nada por essa absolvição, por que? porque essa salvação eterna ela é completamente de graça, porém, existe uma coisa que você nota em você, e ai você não precisa acreditar na doutrina da Igreja , não precisa acreditar em mim, em nada, basta você olhar dentro de você, mesmo depois de absolvido os seus pecados, você continua com uma tendência para o mal, mesmo depois que você recebeu o perdão você continua com aquela inclinação para a maldade, por que? bom, a gente diz no ditado popular que é o cachimbo que entorta a boca, ou seja, você vai fazendo aquele pecado e aquilo vai viciando você, fazendo que você fique cada vez mais inclinado para o pecado, isso a absolvição não resolve, isso é algo que você deve resolver através da penitência.

É assim, que na história da Igreja, no início, essa questão da penitência sempre foi levada muito a sério, por era visível que: é verdade, pelo pecado me tornei uma pessoa pior, então, a penitência não é uma imposição injusta do padre, é algo necessário para mim, é uma bondade de Deus, é uma coisa boa e bonita, porém até aqui não falamos de indulgência, como é que surgiram as indulgências dentro da Igreja, aconteceu o seguinte:

Na época das perseguições muitas pessoas que ao invés de ser fiel a Jesus terminou traindo a Jesus e a Igreja, imagine que houvesse uma "blitz" dos soldados romanos, e de repente eles entram numa comunidade cristã e levam para "a delegacia", aqui adaptando a linguagem para nossa época, aquele grupo de cristãos, desse grupo de cristãos alguns professam a sua fé em Jesus Cristo e por isso são condenados, jogados no calabouço e por isso serão martirizados. Outros, na hora "do vamos ver", "amarelaram", foram covardes, negaram a Jesus Cristo e resolveram oferecer sacrifício aos ídolos, aqui nós temos então duas situações, cristãos que irão viver um martírio heroico, irão pagar uma penitência enorme, quando na verdade não tiveram pecados enormes, e do outro lado cristãos que traíram a Igreja, que traíram Jesus, acontecia que muitas vezes os cristãos traidores se arrependiam e iam até o bispo e diziam: Seu bispo eu trai Jesus, perdão, foi uma fraqueza, eu quero pedir ao senhor perdão do meu pecado, o bispo então impunha uma penitência para aquele cristão que havia caído e se converteu a penitência as vezes, ela durava alguns anos, durante anos essa pessoa deveria viver sem carne, dormindo no chão, quando fosse a Igreja ele precisaria ficar no fundo da Igreja de joelhos, batendo no peito e pedindo perdão, eram penitências desse tipo, bastante sérias, bastante graves.

Pois bem, nesse contexto aconteceu uma história de amor, alguns desses mártires que iam morrem, derramar o seu sangue por amor a Cristo, começaram a escrever as chamadas cartas de paz, o que era uma carta de paz, o mártir ele escrevia uma carta para o bispo, e dizia: senhor bispo, eu vou derramar o meu sangue, eu vou morrer por amor a Cristo, e isso e uma penitência enorme, eu peço ao senhor que o senhor receba esta penitência que eu vou fazer e aplique para "fulano", porque, coitadinho, ele vai ter que ficar dez anos fazendo penitência, então, o meu derramamento do sangue sirva para ele, isto era indulgência, ou seja, a aplicação dos méritos desses Santos mártires, o méritos desses membros da Igreja maravilhosos, para ajudar esses outros membros da Igreja "menos maravilhosos", esses outros membros da Igreja pecadores, que precisariam fazer tantos e tantos anos de penitência para se livrar das consequências do seu pecado, então veja, aqui esta realidade, a realidade da indulgência que diz: nós somos um só corpo, nós somos membros do corpo de Cristo, por isso, você não vai entender nunca a indulgência se você não crer na comunhão dos Santos, se você não crer que nós somos um só corpo em Cristo Jesus e o bem que eu faço afeta positivamente as outras pessoas, ou seja, a penitência que eu faço pode afetar outras pessoas que não fazem penitência, que a oração que eu faço pode afetar outras pessoas que não fazem oração, Nossa Senhora de Fátima pediu isso aos três pastorinhos, que eles se oferecessem pelos pecados, que fizessem penitência pela salvação da alma dos pecadores, como é isso possível? Só é possível se nós cremos que existe uma realidade de comunhão, "vasos intercomunicantes" na Igreja onde não é somente os pecados dos outros que me afeta, mas também as coisas boas e bonitas que eu faço que vão afetando os outros, e transformando os outros em pessoas melhores.

Se nós cremos nisso, então nós podemos entender como é que a Igreja administra as indulgências, ou seja, a disciplina das indulgências é uma forma da Igreja distribuir esta graça, da penitência, dos méritos, das coisas boas e bonitas que os seus membros Santos realizaram, vamos recordar que a Igreja é um só corpo, então imagine quantos méritos e quantas maravilhas já foram adquiridos por Jesus que morreu na cruz evidente, pela Virgem Maria, que nunca pecou, pelos Santos, que morreram de forma heroica, pois bem, esse é um tesouro espiritual da Igreja, e esse tesouro espiritual é aplicado a você através da indulgência, mas ou menos essa é a ideia, ou seja, com a confissão você recebe a absolvição de seus pecados e ali foi perdoada a pena eterna, o inferno, você morrendo não vai para o inferno, mas não foi perdoada a pena temporal, isso quer dizer que se você morrer nesses estado você não vai para o inferno, mas também vai ficar um tempo no purgatório até que você resolva o problema da pena temporal, resolva o problema dessa maldade que você criou no seu coração através do seu pecado, porque você não pode entrar com um coração desses no céu, então vejam como está tudo interconectado, ou seja, a penitência ela está ligada com a indulgência, e para entender a indulgência eu tenho que entender a comunhão dos Santos, e pra entender a comunhão dos Santos eu tenho que entender que existe pena temporal e que existe purgatório.
Aí está, parece uma grande confusão mas é uma coisa muito simples, o simples é o seguinte, Deus é bom e misericordioso você não precisa pagar por nada, só que o seu pecado, que você não precisa pagar, deixou consequências no seu coração, você precisa fazer penitência, mas você não está sozinho, a Igreja está com você, somos um só corpo, fazemos penitência juntos, então a indulgência passa para você, isto significa que nós também podemos ajudar as pessoas que estão lá no purgatório, as indulgência servem também para eles, ou seja, aquilo que eu faço aqui, eu posso ajudar essas pessoas porque nós somos um só corpo, eles não pagaram aqui na terra o que precisavam pagar da pena temporal? Eu posso ir pagando para eles, e a Igreja pode me ajudar com as indulgências para que eles possam receber muito mais do que aquilo que eu fiz com as minha sobras indulgenciadas, por exemplo, no dia 02 de novembro, quando nós temos a indulgência aplica aos fiéis defuntos, falecidos, as pessoas que estão no purgatório, como é que eu faço? Bom, eu faço uma visita ao cemitério, que é uma obra bastante simples, depois rezo pelas intensões do Papa, depois comungo, confesso, e então a Igreja diz que essa sua ação aplica àquelas pessoas que estão no purgatório uma indulgência plenária, ou seja, elas seria libertadas do purgatório, se você obteve essa indulgência.

A indulgência para nós é uma boa notícias, é uma realidade da qual nós não deveríamos nos livrar, tem gente que não acredita em indulgências porque acha que eles estão ligadas a uma mentalidade anti-ecumênica, porque houve a briga com os protestantes no século XVI a respeito das indulgências, nada disso justifica, se os membros da Igreja cometeu algum erro no passado ao aplicar a sua doutrina, não pode fazer que nós queiramos mudar a doutrina, se houve pessoas que abusaram das indulgência, querendo vender as indulgências, coisas que é proibido, sempre foi e sempre será, então, se houve pessoas que abusaram da disciplina eclesiástica não quer dizer que eu deva abolir a doutrina das indulgências, veja, se uma pessoa trai a sua esposa eu não devo abolir o matrimônio por isso, mas devo ao contrário, crer ainda mais no matrimônio para que esse casal se reconcilie cada vez mais, também a indulgência, se algum membro da Igreja, historicamente, abusou da indulgência nós não devemos deixar de usar esse tesouro, que é maravilhoso, saber que eu não estou sozinho lutando contra o meu pecado, eu tenho a Igreja inteira que me apoia e como mãe indulgente me ajuda a vencer e a ser melhor. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dia de todos os fiéis defuntos - Finados (Igreja Padecente)



Hoje, 02 de novembro, celebramos o dia de todos os fiéis defuntos, popularmente conhecido como dia de finados.

O que é que nós fazemos nesse dia?
Nesse dia nós visitamos os cemitérios, e lembramos de rezar pelas nossas pessoas que nós amamos, pelas pessoas que queremos bem e não somente isso, também pelas almas necessitadas que estão no purgatório.

Que sentido tem nós rezarmos pelas pessoas falecidas?
O Papa Bento XVI em sua Encíclica Spe Salvi, no número 48 ele procura dar as razões de nós praticarmos isso, de nós rezarmos pelos nossos irmãos falecidos, ele lembra que essa prática de rezar pelos defuntos é algo que vem desde o Antigo testamento, como atesta o segundo livro dos Macabeus, mesmo que os nossos irmãos evangélicos não aceitem o livro dos Macabeus como um livro canônico, ou seja um livro que faz parte das escrituras, eles não tem como negar que é um livro que atesta uma pratica histórica, ou seja, antes de Jesus os Judeus já rezavam pelos mortos. E, depois de Jesus, esta realidade continua, se nós formos nas catacumbas de Roma, onde os primeiros cristãos sepultavam os seus irmãos falecidos, nós iremos encontrar que nas lápides dos túmulos cristãos haviam pequenas orações em que os cristãos pediam a Deus e pediam aos Santos que intercedessem por esse irmão falecido, em favor desse irmão falecido. Por isso nós temos essa Tradição, que continua através dos séculos 2000 anos de cristianismo nós continuamos ajudando os nossos irmãos falecidos a oração, a eucaristia e a esmola, são três praticas fundamentais que nós pensamos, cremos e sabemos que podem ajudar os nossos irmãos no purgatório.

E por que isto?
Porque nós sabemos que o amor não é detido pela morte,o amor é mais forte que a morte, portanto o nosso amor por esses irmãos pode ir para além das portas da morte. Nós podemos rezar por eles, nós podemos interceder por eles, e isso é uma convicção fundamental do cristianismo, é algo que nos estimula, essa certeza de que nós podemos e devemos amar os nossos irmãos.

O Papa em sua Encíclica Spe Salvi, diz assim:
"Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes queridos, que já partiram para o além, um sinal de bondade, de gratidão ou mesmo de pedido de perdão?"
 As vezes você tem uma pessoa que faleceu e você gostaria de pedir perdão, você gostaria de agradecer o que você não teve tempo de agradecer, você gostaria de pedir a Deus em favor daquela pessoa, pois bem, depois da morte nós continuamos nessa comunhão, nós somos membros do corpo de Cristo e a morte não nos excomunga, não nos tira do corpo de Cristo, ora, o que um membro faz de bom influencia o outro, e por isso, nós podemos nos unir a esses irmãos falecidos através da nossa oração, do nosso bem querer e da nossa intercessão.

O Papa diz uma frase belíssima nessa sua Encíclica, ele diz:
"Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil." 
 Até mesmo depois da morte, nunca é tarde demais, por que? porque nós não sabemos como é que se dá o tempo depois da morte, e não estamos querendo invadir o tempo de Deus, não é isso, mas existe o nosso tempo e no nosso tempo nunca é  tarde demais para amar, aqui do nosso lado, do jeito que nós enxergamos, nós sabemos, mesmo depois da morte podemos e devemos continuar amando.

O Papa conclui essa sua reflexão com uma constatação belíssima: a nossa esperança a esperança que nós temos de salvação, só é verdadeira esperança quando é esperança também para os outros, quando nós esperamos salvação, não somente pra nós, mas também para os outros. Seria muito ruim que nós desejássemos uma salvação egoística, porque uma salvação egoística não seria salvação alguma, seria inferno, somente quando nós queremos a salvação de todos é que somos verdadeiramente cristãos, mesmo que nós saibamos: é possível que haja pessoas no inferno, mas podemos e devemos esperar a salvação, a esperança de que no final o amor de Deus vencerá.